Com Efeito Poupa-Terra, pecuária bovina brasileira cresce sem pressionar florestas

Estudo explica efeito que permite crescimento dissociado de desmatamento, com base em tecnologia e boas práticas.

Por Ana Cecília Panizza em 9 de setembro, 2025

Atualizado: 22/09/2025 - 17:30

Pecuária bovina brasileira crescendo de forma sustentável com efeito Poupa-Terra, sem pressionar as florestas e promovendo a preservação ambiental.
Foto: Minerva Foods

Se o Brasil utilizasse atualmente a tecnologia na pecuária bovina de três décadas atrás, seriam necessários 286 milhões de hectares adicionais para o País atingir os atuais níveis de produção. Essa área representa cerca de 33 vezes o tamanho de Portugal e aproximadamente 33,6% do território brasileiro. A revelação é do estudo Carne Bem-Criada, elaborado pelo Adeca Agronegócios, grupo de consultoria da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), a partir de dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), que também destaca a dissociação entre a produção de carne bovina e o desmatamento anual no Brasil.

Como evidenciado no gráfico a seguir, mesmo com o aumento significativo da produção de carne bovina no Brasil desde 1990, a área de pastagem se manteve estável ou até reduziu levemente. Isso foi possível graças ao avanço da tecnologia no campo, que aumentou a produtividade da pecuária sem a necessidade de expandir a área ocupada – fenômeno conhecido como Efeito Poupa-Terra, demonstrado no gráfico pela cor verde clara — ou seja, a diferença entre a área que seria necessária sem tecnologias (linha vermelha) e a área real ocupada (em verde escuro). 

Fonte: Athenagro, dados IBGE (PPM, PPT, PAM, Censo) , INPE (Terraclass/Prodes), Lapig, Rally da Pecuária, Embrapa

Evolução da área de pastagem, ocupação e produtividade

Esse outro gráfico (a seguir) traz também a dissociação clara entre o aumento da produção de carne bovina no Brasil e o desmatamento anual. Entre 2004 e 2023, enquanto a produção de carne (linha azul) cresceu de aproximadamente 7,4 milhões para mais de 10 milhões de toneladas em equivalente carcaça (TEC), o desmatamento (linha vermelha) caiu de 27,77 mil hectares para 9 mil hectares. O TEC é uma unidade de medida utilizada para padronizar a produção de diferentes tipos de carne e representa a quantidade de carne que seria obtida a partir de um abate padrão, considerando a conversão da carne em carcaça (sem ossos e vísceras). Isso mostra que foi possível intensificar a produção pecuária sem expandir a área de pastagem via desmatamento. 

A curva descendente do desmatamento, especialmente entre 2004 e 2012, contrasta com a tendência de crescimento da produção a partir de 2012, evidenciando os ganhos de produtividade no setor — ou seja, mais carne sendo produzida por hectare já convertido. Isso reforça o papel de tecnologias e práticas sustentáveis na pecuária moderna.

Fonte: ABIEC com base em Athenagro, dados Agroconsult, Agrosatélite, IBGE, Inpe/Terraclass, Lapig, Prodes, Rally da Pecuária.

Entre elas, as que mais se destacam na bovinocultura são o desenvolvimento de culturas adaptadas às condições locais, a implementação de múltiplas safras anuais e a utilizaçãode práticas como a Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), o Sistema de Plantio Direto (SPD), a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) e a agricultura de precisão, como elenca o artigo “Efeito Poupa-Terra: produtividade é a chave para a sustentabilidade ambiental do agro brasileiro?”, de pesquisadores do Insper.

A contribuição de pesquisas, programas e ferramentas governamentais, como o PronaSolos e o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), também têm sido fundamentais para o uso eficiente da terra, assim como o melhoramento genético, o manejo e a nutrição, que otimizam a eficiência do desempenho animal, a taxa de lotação e o uso das áreas de pastagem.

Imagem de uma área de pastagem com árvores e gado, destacando o Efeito Poupa-Terra na preservação ambiental e na sustentabilidade do solo.
Imagem gerada por Inteligência Artificial

Efeito Poupa-Terra, impacto global exponencial

O uso de tecnologias e práticas avançadas ainda podem contribuir muito mais para o uso eficiente da terra, permitindo o aumento produtivo que a demanda crescente global por proteína de origem animal precisa, sem conversão de novas áreas em pastagens. Isso porque, como evidencia o estudo da USP, atualmente 76% das propriedades destinadas à atividade têm produtividade abaixo da média nacional, que é de 67,7 Kg de carcaça/ha/ano, segundo Beef Report da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) de 2024. Na Minerva Foods, por exemplo, esse índice  chegou a 80,72 kg de carcaça/ha/ano no mesmo ano, devido, principalmente, ao mercado de exportação, que premia quem produz com intensificação sustentável.

O documento aponta que, se essa parcela de 76% das fazendas tivesse acesso ao mesmo nível de tecnologia das propriedades altamente produtivas, o Brasil – sozinho – poderia suprir cerca de 68,61% da demanda mundial por carne de boi, sem precisar ampliar áreas de produção. Atualmente o País é responsável por 13,8% da produção global, segundo a Abiec.  

Esse é um dos objetivos do Programa Renove, promovido pela Minerva Foods. O projeto atua em três frentes – finanças verdes, parcerias técnicas e capacitação e assistência técnica. 

Enquanto a frente finanças verdes foca na disponibilização de linhas de crédito e fundos que reconhecem o desempenho dos pecuaristas comprometidos com práticas sustentáveis, a frente parcerias técnicas visa assegurar o uso de metodologias e inovações reconhecidas internacionalmente e respaldadas pela ciência. Por fim, por meio da frente de capacitação e assistência técnica, a empresa dá suporte para que os pecuaristas implementem tecnologias de baixa emissão de carbono, aliando rentabilidade e sustentabilidade. Isso se dá a partir de atividades de extensão rural, transferência de tecnologia e capacitação para que técnicos rurais e pecuaristas adquiram as ferramentas e os conhecimentos necessários para manterem as melhores práticas em suas atividades. 

Como explica a gerente executiva de sustentabilidade da Minerva Foods Gracie Verde Selva, “essas medidas contribuem para abrirmos caminho para uma agropecuária sustentável e rentável, a partir das melhores práticas de manejo do pasto e do gado, o que amplia a produtividade em uma mesma área, garantindo o preceito do Poupa-Terra”. Segundo Gracie, “as informações da Esalq e da Abiec, que são referências em levantamento e interpretação de dados sobre pecuária, desmistificam a associação entre desmatamento e cadeia da carne bovina no Brasil, mostrando que a pecuária cresce sem pressionar florestas. Cresce prezando pela responsabilidade socioambiental por meio da tecnologia e da eficiência”. 

É essa trajetória, baseada em inovação, intensificação sustentável e boas práticas, que posiciona o Brasil como referência global em produção agropecuária de baixo impacto ambiental. Em um cenário em que o mundo volta os olhos para a Amazônia com a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém/PA, essa narrativa ganha ainda mais relevância. É o momento de o País consolidar seu protagonismo climático, aproveitando as oportunidades e o seu potencial para mostrar que é possível abastecer o planeta com carne bovina de forma sustentável, ampliando produtividade sem avançar sobre novas áreas — um verdadeiro celeiro do mundo que cresce em eficiência, não em território.