A busca por saúde, autonomia e bem-estar tem se intensificado entre os idosos, que devem representar 37,8% da população brasileira em 2070, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda segundo o instituto, cerca de 9 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais praticam alguma atividade física. Esse novo perfil do envelhecimento desafia antigos paradigmas, como a crença de que a carne vermelha deve ser evitada por quem busca cuidar do coração.
Uma revisão bibliográfica realizada pela Adeca Agronegócios, grupo de consultoria da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), mostrou que a carne magra consumida com equilíbrio não é a grande culpada pelo aumento de risco cardíaco em idosos. Pelo contrário, estudos indicam que, na medida certa, ela ajuda na proteção cardiovascular. É, ainda, uma aliada importante contra a sarcopenia (perda progressiva de massa muscular e força associada ao envelhecimento), a osteoporose (doença que causa o enfraquecimento dos ossos) e a anemia.
O documento traz à tona o estudo de Stuart M. Phillips, publicado pela Meat Science, que evidencia que o problema está no consumo excessivo de carboidratos simples, presentes em alimentos ultraprocessados, açúcares refinados e farinhas brancas. Esses ingredientes elevam rapidamente a glicemia e estimulam a produção de insulina, o que contribui para inflamações crônicas e alterações metabólicas associadas ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Carne vermelha magra oferece nutrientes fundamentais para o coração

Pesquisadores dos Estados Unidos e da Bélgica revisaram evidências sobre o papel da carne vermelha magra em diferentes fases da vida em artigo publicado na revista Frontiers in Nutrition. Segundo os autores Melissa Kavanaugh, Diana Rodgers, Nancy Rodriguez e Frédéric Leroy, quando inserida em padrões alimentares equilibrados — como a dieta mediterrânea —, ela pode fazer parte de uma estratégia alimentar que favorece parâmetros ligados à saúde cardiovascular.
O estudo também reforça que, entre idosos, a carne vermelha magra é uma das principais fontes de nutrientes frequentemente sub consumidos, como proteínas de alto valor biológico, ferro heme, zinco e vitamina B12 — todos essenciais para o bom funcionamento do coração, além do cérebro e da musculatura.

Complementando esse cenário, um estudo publicado no American Journal of Clinical Nutrition mostrou que mulheres com mais de 60 anos que seguiram uma dieta rica em proteínas, incluindo carne vermelha magra, e praticaram exercícios de resistência ao longo de quatro meses, apresentaram ganho significativo de massa muscular e redução de níveis de inflamação, sem aumento nos marcadores clássicos de risco cardíaco. Esse tipo de resposta inflamatória, medida pela queda da interleucina‑6 (IL‑6), está diretamente associada à prevenção de eventos cardiovasculares em idosos.
Cortes magros têm baixo teor de gordura
O alerta dos especialistas recai sobre o tipo de corte escolhido e o modo de preparo. A recomendação é dar preferência a opções magras e evitar o uso excessivo de sal ou fritura. Para idosos que desejam consumir carne vermelha sem comprometer a saúde cardíaca, é essencial a escolha dos cortes com baixo teor de gordura saturada, o que ajuda a manter níveis saudáveis de colesterol e reduzir o risco de doenças cardiovasculares. Essas alternativas oferecem os mesmos nutrientes essenciais da carne vermelha — como ferro heme, vitamina B12 e proteínas completas — mas com menor impacto sobre o colesterol LDL, conhecido como “colesterol ruim”.
Essa combinação representa uma estratégia de ganho de autonomia, longevidade e bem-estar e indica práticas baseadas em evidências. A manutenção da saúde na terceira idade não depende de dietas restritivas, mas de escolhas consistentes e equilibradas. Os estudos reforçam que o foco deve estar no equilíbrio e na combinação com bons hábitos de vida.