Diversas preocupações têm sido levantadas em relação ao consumo de carne bovina, abrangendo desde os impactos ambientais, como a emissão de gases de efeito estufa, até os efeitos sobre a saúde metabólica. Evidências recentes reforçam essas inquietações, especialmente diante da elevada ingestão diária de carne bovina observada em diversas populações. De modo geral, observa-se uma supervalorização do consumo de proteínas de origem animal, particularmente da carne bovina, o que pode favorecer também a ingestão excessiva de outros nutrientes, como a gordura saturada, amplamente associada a desfechos cardiovasculares adversos.
Nesse contexto, o principal ponto de atenção deve ser a quantidade total consumida diariamente, além do tipo de corte escolhido. É igualmente importante considerar os aspectos comportamentais relacionados ao consumo de carne bovina, uma vez que esse hábito se associa a padrões específicos de estilo de vida. Por exemplo, utilizando dados transversais do estudo longitudinal Coronary Artery Risk Development in Young Adults (CARDIA), foram analisadas associações entre o consumo de carne e diversos indicadores de saúde e dieta. Indivíduos que consumiam carne vermelha e aves com menor frequência apresentaram menor consumo de álcool, níveis mais elevados de atividade física, melhor qualidade dietética e menores índices de massa corporal, colesterol total, LDL-colesterol e triglicerídeos, em comparação com aqueles que consumiam carne com maior frequência. Esses achados sugerem que o consumo de carne está inserido em um conjunto mais amplo de comportamentos que influenciam a saúde.
No caso de doenças específicas, como o câncer colorretal, tanto de início precoce quanto tardio, os principais fatores de risco identificados incluem a baixa ingestão de grãos integrais, o baixo consumo de leite e a alta ingestão de carne vermelha. Esses dados reforçam que os efeitos adversos sobre a saúde não se restringem a um único nutriente, mas decorrem de padrões dietéticos como um todo.
Considerando que o consumo de carne bovina está culturalmente enraizado em muitas sociedades, a abordagem mais eficaz para mitigar seus efeitos negativos é a moderação. Isso inclui não apenas a adequação da quantidade consumida, mas também a adoção de outras práticas de saúde, como atividade física regular, maior ingestão de alimentos de origem vegetal e escolhas alimentares equilibradas.
Adicionalmente, recomenda-se a preferência por cortes magros, com menor teor de gordura saturada, e a manutenção de uma ingestão proteica ajustada às necessidades individuais, em torno de 0,8 a 1,0 g/kg/dia para pessoas sedentárias e aproximadamente 1,6 g/kg/dia para indivíduos fisicamente ativos. Essas estratégias, quando bem orientadas, favorecem efeitos positivos sobre a saúde e podem coexistir com práticas alimentares sustentáveis e culturalmente apropriadas.
Dessa forma, garantir os benefícios associados ao consumo de carne bovina requer uma combinação de moderação na quantidade ingerida, escolha de cortes magros e integração a um padrão alimentar equilibrado. Além disso, o consumo deve estar inserido em um estilo de vida saudável, com prática regular de atividade física e maior presença de alimentos de origem vegetal, o que contribui para reduzir riscos metabólicos e ampliar os efeitos positivos à saúde.
Referências:
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