O desafio de financiar a transição para um agronegócio de baixo carbono no Brasil é de escala sistêmica. O orçamento público e o crédito rural tradicionais não bastam, é preciso combinar fontes, instrumentos e atores. Nesse arranjo, o Terceiro Setor, composto por organizações da sociedade civil, fundações e redes de filantropia, se tornou agente catalisador que reduz risco, cria padrões e dá capilaridade aos recursos, conectando investimento privado a resultados ambientais e produtivos mensuráveis.
Blended finance e a importância do Terceiro Setor
O blended finance (financiamento híbrido) usa capital público ou filantrópico para assumir o risco inicial (first loss, garantias, assistência técnica) e mobilizar capital privado rumo Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), definição consolidada em guias e estudos que vêm pautando projetos no agro e na bioeconomia. No Brasil, o BNDES descreve essas estruturas como modelos híbridos que combinam capital subordinado (dívida/equity), garantias, grants e pagamentos por resultados, exatamente para tornar projetos socioambientais atrativos ao investidor comercial.
O efeito prático aparece, por exemplo, em iniciativas para desmatamento zero na produção agrícola. Organizações como o WWF-Brasil, em parceria com a SITAWI Finanças do Bem, mapearam soluções de blended finance para diminuir a lacuna de financiamento em projetos agro com conversão evitada, organizando instrumentos e condicionantes para atrair capital privado.
Capilaridade: chegar à base produtiva e fortalecer a sociobiodiversidade
O capital de risco raramente alcança pequenos e médios produtores ou negócios comunitários sem capilaridade local e Mensuração, Relato e Verificação (MRV) confiável, que é um processo que garante que os resultados ambientais ou climáticos de um projeto sejam reais, rastreáveis e auditáveis. ONGs e institutos preenchem essa lacuna com redes, certificações e assistência técnica.
Na busca por conexão com a base produtiva, as ONGs e fundações são mais eficientes por terem estruturas menores e um foco maior em seus objetivos sociais, mobilizando recursos em prol das comunidades e impulsionando a aplicação de capital no desenvolvimento sustentável de seus beneficiários, conforme plano publicado pela Universidade Federal Fluminense – UFF.

Como exemplo, o Imaflora atua na expansão da rastreabilidade da soja e no incentivo à retenção de florestas na Amazônia, e no fortalecimento da rede Origens Brasil, que conecta comunidades tradicionais ao setor privado sob padrões de comércio ético. Também tem programas como o “Teia da Sociobiodiversidade”, apoiado pelo Fundo Socioambiental CAIXA, que visam ao fortalecimento da autonomia econômica dessas comunidades. Essa combinação de padrões, dados e presença territorial é o que transforma doações em estruturas que reduzem o risco percebido e melhoram a credibilidade dos projetos.
Governança e “escala com método”: do grant ao equity
Sair da fase de doação não reembolsável (grant) e chegar à capital próprio/participação societária (equity) ou dívida comercial exige governança, plano de negócios, métricas e pilotos. Redes como a Latimpacto de filantropia de risco e o grupo FIIMP atuam justamente na ponte entre filantropia de risco e investimento de impacto, testando instrumentos e qualificando a esteira de projetos.
Segundo estudo da Partnerships for Forests, relatórios de organismos internacionais destacam que as estratégias do Terceiro Setor e seus parceiros se concentram em reforçar os fluxos de rendimento das empresas sustentáveis e reduzir as incertezas no longo prazo, fornecendo apoio no desenvolvimento de escopo, planos de negócios e pilotagem, ajudando a superar desafios em contextos locais complexos.
O Terceiro Setor é, em essência, um importante motor para a tradução da agenda de sustentabilidade agroambiental em modelos de negócio “investíveis”. Ao mitigar o risco, estruturar o blended finance e garantir a implementação na ponta com transparência, ele é o parceiro indispensável para que o capital de risco cumpra sua promessa de acelerar a sustentabilidade no agronegócio brasileiro, fortalecendo práticas como a recuperação de pastagens degradadas, o ILPF e os Sistemas Agroflorestais, conforme prevê o plano de investimento anunciado pelo Governo Federal
O contexto da COP30 e a agenda de investimento na Amazônia

A proximidade da COP30 em Belém (PA) posiciona o Brasil — e, em especial, a Amazônia — no centro do debate climático global, servindo não apenas como palco para a discussão, mas como catalisador da mobilização de capital em soluções que alinhem produção agropecuária e sustentabilidade. Nesse contexto, o Terceiro Setor assume papel estratégico na atração e aplicação de investimento de impacto em projetos agroambientais de alto valor. Entre as novidades, destacam-se:
- Anúncio do lançamento da Tropical Forest Forever Facility (TFFF), com mais de US$ 5,5 bilhões mobilizados, voltados à conservação permanente de florestas tropicais.
- Lançamento, pelos estados da Amazônia legal e parceiros, do projeto pioneiro para transformar ativos ambientais em fontes de receita — valorizando unidades de conservação como parte de um modelo de negócio sustentável.
- Anúncio do Governo Federal de investimento de R$ 150 milhões em áreas de Florestas Produtivas, beneficiando assentamentos de reforma agrária na Amazônia para 2025–2029. Agência Gov.
Fonte de referências:
Blended finance: financiamento híbrido para impulsionar investimentos socioambientais
Blended finance para zero conversão
PLANO DE MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS PARA ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR COMO REQUISITO PARA A SUSTENTABILIDADE
Conheça os projetos que promovem desenvolvimento sustentável e inclusão social de norte a sul – CAIXA
Partneships for Forests
PLANO DE INVESTIMENTO PARA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Lançamento da Tropical Forest Forever Facility
Amazon states and partners launch pioneering project at COP30 to turn conservation into recurring revenue
Sociedade presente na preparação para COP 30; governo anuncia investimentos para Amazônia