Antes de começar qualquer conversa sobre carne, precisamos primeiramente saber de qual carne vermelha estamos falando? É importante destacar que existem diversos tipos de corte, por exemplo patinho, coxão mole, coxão duro, file mignon. A diferença entre esses tipos de corte está, principalmente, na quantidade de gordura.
Você sabe a diferença entre carne vermelha in natura e carne vermelha processada?

Avaliando a literatura científica, a carne vermelha processada, como bacon, presunto, salsichas, salame e carne enlatada, sempre gera efeitos piores comparativamente à carne vermelha não processada, ou seja, in natura, como carne bovina, vitela, cordeiro, carneiro, porco ou cabra. Isso reforça a necessidade de preferir a carne vermelha não processada e, sempre que possível, variar as origens. Assim, preferir os cortes mais magros e não processados pode ser uma maneira de manter a carne vermelha no prato com mais frequência. Isso porque, muitos problemas relacionados ao consumo de carne vermelha ocorrem pelo ingestão excessiva de gordura saturada.
A gordura saturada eleva o colesterol (LDL-c) conhecido como o “colesterol ruim”, que aumenta a formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos. O que significa isso? É como se nas nossas artérias houvesse um grande congestionamento, impedido que o sangue chegue ao seu destino, causando a morte dos tecidos do corpo que são irrigados por estes vasos sanguíneos.
O preparo da carne vermelha também conta! Preparações cozidas, assadas e grelhadas são sempre mais recomendadas do que fritas e empanadas. E, por fim, qual a quantidade você ingere? Não é simples definir o tamanho da porção, mas, quantidades de aproximadamente 100 g/dia (considerando uma porção crua) parecem ser adequadas. Além disso, sugere-se limitar o consumo para duas a trêz vezes por semana.
Por que existe tanta preocupação com a carne vermelha?
Um estudo científico publicado na revista JAMA (Zhong etal., 2020), reconhecida por publicações de alta qualidade, mostrou que o consumo elevado de carne vermelha in natura aumentou em apenas 3 % o risco de doenças cardiovasculares.
Apesar de o estudo chamar atenção para o consumo de carne vermelha, alguns detalhes são importantes. Um deles é que o estudo não conseguiu separar o tipo de preparação da carne vermelha, ou seja, ele não diferiu se era frita, empanada, assada ou grelhada. Outro problema é que o estudo foi feito apenas com pessoas dos Estados Unidos, cujo padrão alimentar é pior comparativamente ao padrão alimentar do brasileiro. Apesar dessas limitações do estudo, os resultados são interessantes e nos orientam a consumir moderadamente a carne vermelha.
Outros estudos, no entanto, mostraram resultados contraditórios. Por exemplo, um estudo publicado na Critical Reviews in Food Science and Nutrition não mostrou associação entre o consumo de carne vermelha in natura e casos de acidente vascular cerebral isquêmico ou doença coronariana (de Medeiros et al.,2023).
Outro estudo bem robusto publicado na revista Lancet sugere que substituir a carne vermelha processada pela in natura ou por aves reduz o risco de diabetes mellitus tipo 2 (Li et al., 2024), enquanto outro, publicado na revista Lancet, também sugere que reduzir a ingestão de carne vermelha processada promove efeitos positivos (Kennedy, Alexander, Taillie, & Jaacks, 2024).
O que tudo isso significa? Semáforo amarelo. Não há incentivo de comer muita, mas também não há incentivo de excluir a carne vermelha do seu prato. É fundamental, portanto, consumir quantidades adequadas.
Separar o joio do trigo!
Os estudos científicos avaliam, também, o tamanho do efeito (negativo ou positivo) de acordo com quem consome a carne vermelha. Se você é saudável, o efeito da carne vermelha é pequeno ou inexistente. Por isso, é fundamental estabelecer um estilo de vida saudável, com boa qualidade do sono e adequado nível de atividade física. Se você está acima do peso, é tabagista ou consome bebida alcoólica com mais frequência e apresenta outras doenças metabólicas (p. ex.,diabetes mellitus), a atenção precisa ser maior.
Considere o todo

Nenhum alimento sozinho é o causador de doenças. Os efeitos que os alimentos exercem na nossa saúde ocorrem de maneira combinada. Portanto, uma pessoa que consome muita carne vermelha e não consome vegetais apresentará efeitos completamente diferentes de uma pessoa que consome carne vermelha e vegetais adequadamente. Fique atento, e aumente a variedade dos alimentos do seu
prato, considerando também a recomendação atual da literatura científica:
- Aves e peixes: preferir;
- Carne vermelha in natura: consumir com moderação;
- Carne vermelha processada: não consumir ou consumir esporadicamente;
- Vegetais, folhas e legumes: sempre.