Em um momento em que as dietas plant-based ganham visibilidade, um tema sensível retorna ao centro dos debates: a alimentação durante a gravidez. De acordo com a revisão bibliográfica “Carne Bem-Criada”, realizada pela Adeca Agronegócios, grupo de consultoria da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), mulheres que consomem carne durante a gestação têm menor risco de complicações graves, como parto prematuro, baixo peso ao nascer e até mortalidade neonatal.
O documento reúne dados de diversas publicações científicas, entre elas o estudo de Pili Kamenju, realizado na Tanzânia, que acompanhou mais de sete mil gestantes. Uma frequência maior de consumo de proteína de origem animal por mulheres grávidas constatou 30% menos risco de mortalidade neonatal. Também foram observados 28% menos risco de parto prematuro, 36% menos chance de o bebê nascer com baixo peso e 41% menos probabilidade de nascimento muito prematuro (com menos de 32 semanas).
Nutrição em fases críticas da vida
Segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), publicado em 2023, alimentos de origem animal terrestre têm papel decisivo para a saúde e o desenvolvimento humanos, especialmente em momentos de maior vulnerabilidade nutricional, como gestação, lactação, infância, adolescência e envelhecimento. Intitulado “Contribuição dos alimentos de origem animal terrestre a uma dieta saudável para melhorar a nutrição e a saúde”, o documento destaca que carnes, ovos e laticínios oferecem proteínas de alto valor biológico, além de nutrientes como ácidos graxos essenciais, ferro, zinco, selênio, cálcio e vitamina B12, todos relevantes para a formação fetal e para a saúde da gestante. Ainda de acordo com a FAO, é difícil obter esses nutrientes em quantidade e qualidade suficientes por meio exclusivo de alimentos de origem vegetal.
Gestação exige atenção redobrada à dieta
Durante a gravidez, o equilíbrio nutricional é essencial para garantir o bom desenvolvimento do feto e a saúde da mãe. Dietas que eliminam completamente grupos alimentares, como a carne, podem colocar em risco a oferta adequada de micronutrientes. O relatório da FAO aponta que deficiências nutricionais nesse período aumentam o risco de problemas como crescimento intrauterino restrito, baixo peso e estatura ao nascer, parto prematuro e outras complicações que afetam a saúde ao longo da vida.
Entre os nutrientes mais críticos está o ferro, cuja carência é comum na gestação e pode levar a efeitos adversos, tanto para a mãe, quanto para o bebê, incluindo alterações no neurodesenvolvimento, cognição e saúde mental infantil, como indica a revisão bibliográfica “Carne Bem-Criada”, ao citar o estudo “Relationship Between Maternal Meat Consumption During Pregnancy and Umbilical Cord Ferritin Concentration”, de Mario Moraes Castro e outros pesquisadores. O ferro, assim como o zinco, presentes em alta biodisponibilidade nas carnes, são especialmente importantes durante a gravidez, fase marcada por uma expansão significativa do volume plasmático.
A carne vermelha, em particular, oferece ferro heme, de absorção mais eficiente, essencial para a formação da placenta e para o transporte de oxigênio pelo organismo. Por isso, assegurar o acesso a alimentos ricos em nutrientes, de forma segura e equilibrada, continua sendo uma das estratégias mais eficazes para promover a saúde materno-infantil. Nesse contexto, os produtos de origem animal ocupam um espaço relevante.