Crédito de carbono transforma sustentabilidade em valor econômico no agronegócio

Ferramenta cria oportunidades financeiras para quem adota práticas regenerativas e reduz emissões no campo

Por Rafael Motta em 28 de outubro, 2025

Atualizado: 31/10/2025 - 12:34

Moedas de dinheiro com pequenas plantas crescendo, simbolizando o uso de créditos de carbono para sustentabilidade e economia verde.
Foto: Katiindies/ Shutterstock

O agronegócio tem buscado formas de conciliar produtividade e responsabilidade ambiental. Entre as soluções emergentes, o crédito de carbono desponta como instrumento econômico capaz de transformar boas práticas em valor de mercado.

O mecanismo econômico contribui com geração de receita adicional para o produtor, ao mesmo tempo em que reduz as emissões de gases de efeito estufa (GEE). 

Por que o crédito de carbono é importante?

Vista aérea de uma fazenda com integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) com gados Nelore, áreas de plantio, e árvores na paisagem, destacando práticas sustentáveis e créditos de carbono.
Foto: Minerva Foods

Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o setor agropecuário responde por cerca de 24% das emissões globais de GEE. Ao adotar técnicas de sequestro de carbono – como plantio direto, rotação de culturas e integração lavoura-pecuária-floresta – os produtores podem gerar créditos verificáveis que podem ser vendidos a empresas que desejam neutralizar as suas pegadas de carbono.

Além de colaborar com o meio ambiente, uma nova fonte de renda é gerada para propriedades rurais, ajudando a equilibrar os custos de transição para práticas ecologicamente corretas. 

Como funciona?

Plantação de milho na prática de integração lavoura e floresta, promovendo certificação de crédito de carbono e sustentabilidade ambiental.
Foto: David Hughes/ Shutterstock

O processo de geração de créditos de carbono segue quatro etapas principais. A primeira se refere à implementação de práticas de carbon farming, ou agricultura de carbono, que incluem cobertura vegetal permanente e manejo adequado de resíduos orgânicos. 

Em seguida, organizações certificadas são responsáveis por supervisionar as práticas adotadas. Metodologias reconhecidas, como a VM0042 da Verra ou protocolos da USDA, estão entre as mais consolidadas. 

O processo de emissão de créditos normalmente é medido em toneladas de CO₂ evitado ou sequestrado. Por fim, eles podem ser negociados tanto em mercados voluntários como regulados, onde compradores – indústrias, governos ou consumidores conscientes – os adquirem para cumprir metas de conformidade climática.

Todas essas etapas garantem transparência e rastreabilidade, permitindo às empresas e aos consumidores investirem em ativos com valor comercial real. Um exemplo recente é o da empresa dinamarquesa AgreenaCarbon, que emitiu 2,3 milhões de créditos de carbono. “O projeto AgreenaCarbon é extremamente importante porque demonstra como os projetos de carbono no solo podem escalar”, afirmou Mandy Rambharos, CEO da Verra.

No Brasil, a MyCarbon é uma das empresas mais atuantes nesse segmento, responsável por projetos de carbono que apoiam a recuperação de áreas degradadas, aumentando a produtividade e a renda de produtores rurais enquanto diminuem a pressão da expansão de terras para a produção agropecuária e armazenam carbono no solo, reduzindo as emissões das atividades produtivas.

Marco regulatório brasileiro fortalece o tema

A Lei Nº 15.042 criou o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), um mercado regulado de carbono que segue o modelo Cap-and-Trade, o mesmo utilizado em grandes economias, como a União Europeia.

Inicialmente, o agronegócio não foi incluído no setor regulado pela lei. No entanto, projetos de carbono do agro poderão gerar créditos para o mercado voluntário. Com isso, um “preço” é colocado na poluição, incentivando as empresas a adotar medidas sustentáveis.

O processo de implementação no Brasil funciona da seguinte forma: a primeira fase dura entre 12 e 24 meses. Nessa etapa, são definidos os detalhes operacionais e jurídicos que estruturam o funcionamento do mercado de carbono. A segunda fase se refere à operacionalização do sistema de Monitoramento, Relato e Verificação (MRV) das emissões. Com isso, todas as empresas enviam relatórios periódicos de maneira padronizada.

Durante a terceira fase, que leva até 24 meses, inicia-se a obrigação de apresentar os relatórios de emissões e planos de monitoramento. Todos os dados coletados serão utilizados para o primeiro Plano Nacional de Alocação (PNA), que definirá os limites legais para emissão.

Caso tudo esteja em ordem, será iniciada a última fase – o início dos leilões dos créditos de carbono (CBEs). Espera-se que as primeiras negociações se iniciem entre 2027 e 2030, se o cronograma avançar conforme o planejado.

Com a conclusão dessas etapas, o Brasil deverá ingressar definitivamente no grupo de países com mercados de carbono regulados e economicamente ativos, ampliando as oportunidades para o agronegócio. A expectativa é que, ao precificar oficialmente as emissões e reconhecer os esforços de mitigação e sequestro de carbono no campo, o setor passe a capturar valor financeiro por práticas já adotadas — como o plantio direto, os sistemas integrados e o manejo regenerativo de pastagens.

Além de fortalecer a competitividade internacional da produção brasileira, o novo sistema deve converter a sustentabilidade em ativo econômico mensurável, atraindo investimentos, ampliando o acesso a crédito verde e consolidando o papel do Brasil como fornecedor global de alimentos e soluções climáticas.

Fontes de referência:
USDA Announces Progress on Newly Authorized Climate Programs
Scaling Sustainable Farming: AgreenaCarbon’s 2.3 Million Verified Carbon Credits Redefine Regenerative Agriculture
My Carbon
Legislação Informatizada – LEI Nº 15.042


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